25 dezembro 2015

PASSAPORTE A MAGONIA, DE JACQUES VALLEE, capítulos IV a V

O livro Passaporte a Magonia de Jacques Vallee, um renomado pesquisador do fenômeno UFO, foi publicado pela primeira vez em 1969, contando atualmente com edições na língua inglesa, francesa e espanhola. É uma obra esclarecedora e importante para a Ufologia. Infelizmente, não há uma publicação na língua portuguesa. Para ajudar na divulgação dessa obra seminal e sua proposta de compreensão do fenômeno ufológico, farei em dois artigos um pequeno resumo dos capítulos, sem apresentar ideias próprias, recorrendo constantemente as palavras do próprio autor. Talvez alguns leitores do blog se interessem pela leitura do livro. Para os que tem dificuldade com a língua inglesa, a edição em espanhol é recomendada. Ao longo dos anos, Vallee aprimorou a tese de Magonia, como em seu livro de 1988 "Dimensions: A Casebook of Alien Contact". Somente um grande escritor consegue com elegância e simplicidade cometer o que muitos consideram uma heresia: relacionar o folclore de vários países ao fenômeno UFO e dessa relação propor hipóteses revolucionárias. Jacques Vallee declara que a tese extraterrestre não é estranha o suficiente para explicar o fenômeno ufológico. Passaporte a Magonia é o primeiro passo para se começar a entender essa declaração.

Esse é o Segundo artigo.
Leia o Primeiro artigo aqui.


PASSAPORTE A MAGONIA

Se o leitor não leu o primeiro artigo sobre Passaporte a Magonia, é altamente recomendável sua leitura antes de adentrar neste segundo e último artigo sobre a obra. Leia o primeiro artigo

Sobre o autor:

Jacques F. Vallee nasceu na França, formou-se em matemática na Sorbonne, possuí mestrado em astrofísica pela Universidade de Lille. Emigrou para os EUA como astrônomo da Universidade do Texas, onde co-desenvolveu o primeiro mapa baseado em computador de Marte para a NASA, Jacques depois se mudou para Northwestern University, onde recebeu seu Ph.D. em ciência da computação. É autor de diversos livros em sua área de atuação profissional, na ficção e ufologia.

Origem e significado de Magonia:


Magonia é citada pela primeira vez por Agobardo, bispo de Lyon, França, em seu livro do século IX: Era o lugar de origem de uma nação de piratas do céu viajando em "navios de nuvens" e usando a magia para criar tempestades que eles usavam para roubar a colheita do campo.

CAPÍTULO IV: IDA E VOLTA A MAGONIA


Caso Gerry Irwin

Ao anoitecer de 28/02/1959, Gerry Irwin, um técnico de misseis, regressava do Forte Bliss, Texas, em seu automóvel. Na estrada observou um fenômeno incomum. Um objeto brilhante cruzou o céu e ele observou sua trajetória até desaparecer atrás de uma colina. Acreditou ser um avião em chamas caindo. Deixou uma nota no seu automóvel parado na estrada e foi atrás do local de pouso. Noventa minutos depois Gerry foi encontrado inconsciente por um grupo de voluntários arregimentado pelo xerife e levado ao hospital. Não se descobriu nenhum acidente de avião. Ao despertar, ficou intrigado com o desaparecimento de sua jaqueta. Levado ao Fort Bliss ficou em observação por quatro dias. Vários dias depois, Irwin sofreu um desmaio no Forte. Passados 112 dias sofreu outro desmaio numa rua de El Paso e foi levado para o Hospital. As duas da manhã despertou e perguntou: Ouve sobreviventes? Ficou hospitalizado um mês sob observação psiquiátrica. Recebeu alta em 17/04. No dia seguinte, saiu do forte sem permissão, voltou ao local da estrada onde observara o objeto, e procurando o local achou sua jaqueta. Retornou ao Forte Bliss. Em 01/08, não se apresentou a sua unidade. Nunca mais foi visto.

Caso Betty e Barney Hill

Esse caso é muito conhecido no mundo da ufologia e a descrição detalhada pode ser obtida na Wikipédia.

Valle faz uma introdução do caso ocorrido entre 19 e 20 de setembro de 1961, conforme informe coletado por funcionários da Base Aérea de Pease: Estavam na estrada quando observaram um objeto brilhantemente iluminado em frente a seu veículo, em um angulo de elevação aproximado de 45°. Forma e intensidade das luzes eram estranhas. Continuaram a observar o objeto com o automóvel em movimento durante alguns minutos, até que finalmente pararam. Eles tinham um binóculo. O objeto viajava para o Norte a grande velocidade, depois mudou de direção e passou a dirigir-se ao Sul. Depois parou no ar, não havia som algum. Enquanto permanecia imóvel, começaram a surgir outros objetos do corpo do objeto maior, que eles descreveram como tendo asas em forma de V antes de estender-se. Nesse momento observaram que o objeto parecia descer em direção a eles. Então, abandonaram o local o mais rápido possível. Barney dirigia e Betty observava o objeto, que partiu para Noroeste. Informaram que enquanto o objeto estava sobre eles, ouviram uma serie de zumbidos fortes e curtos, que compararam ao que produziria um diapasão ao cair. Prosseguiram a viagem até que perto de Ashland, estado de New Hampshire, uns 50 km de Lincoln, voltaram a ouvir o zumbido do objeto; não obstante, desta vez não o viram. Os Hill não informaram aos militares acerca dos seres que puderam ver a bordo do aparato enquanto observavam pelo binóculo. E também não haviam se dado conta do lapso de tempo de duas horas transcorrido entre os dois momentos em que ouviram os zumbidos. Ambos sofreram estranhos pesadelos, levando-os a procurar um psiquiatra, que usou de hipnose para chegar ao problema, descobrindo a origem dos pesadelos e das horas perdidas. Sob hipnose separada, Betty e Barney Hill disseram que foram levados por estranhos seres para o interior do OVNI. Vallee teve o privilégio de ouvir as fitas magnéticas das sessões. Analisou o caso Betty e Barney Hill e traça semelhanças com antigos casos das lendas aludidas nos capítulos anteriores.
Betty Hill recordou que quando seu automóvel parou, um grupo de “homens” se aproximou deles, abriram a porta de veículo e apontaram um pequeno aparato. Quando perguntada com o que se assemelhava ela disse: “Poderia ter sido um lápis.”.

Barney Hill declarou:

“Eu não ouvia sua voz. Porém, mentalmente, sabia o que me estavam dizendo. Não era como se estivessem falando com os olhos abertos e sentados no mesmo quarto, frente a mim. Era, antes, como se as palavras fossem parte de mim (...)”

Diz Vallee:

“Esta notável declaração, que descreve de maneira excelente o mecanismo que põe em marcha a comunicação, acaso constitui a chave de todo o episódio, e, desde logo, coloca este caso no terreno da Teoria das Aparições..., tal como a enfoca, por exemplo, Tyrrell em sua célebre conferencia Myers pronunciada em 1942 ante a Sociedade Britânica de Investigações Psíquicas. Assim, vale a pena observar que o aparente caráter absurdo que tem a série de ações que constituem este episódio poderia reduzir-se a ativação de normas de percepção de alto nível no interior do cérebro da testemunha, não necessariamente mediante processos físicos normais dotados de uma realidade.

Sobre Betty Hill:

“Falando em transe hipnótico, declarou que foi introduzida uma longa agulha em seu umbigo, que sentiu dor e que cessou quando o chefe fez um determinado movimento com a mão frente a seus olhos. Um almanaque francês de século XV, o “Kalendrier des Bergiers” (Calendário dos Pastores), explica as torturas que infringiam os demônios aos infelizes que caiam em suas garras: perfuravam o ventre de suas vítimas com longas agulhas. Na realidade, a constante psicológica que aparece em todas estas historias é inconfundível. ”

“O reconhecimento de que existe um forte componente psicológico (ou psíquico, se assim prefere o leitor) nas manifestações de OVNIS, confere um caráter imperativo a este estudo. Se atribuirmos os fenômenos a causas psicológicas, essas causas devem ter-se manifestado em todas as épocas, embora, naturalmente, os sociólogos possam apresentar diversas razões para explicar o aumento considerável no número dessas manifestações após a Segunda Guerra Mundial. Em troca, se o fenômeno não é de natureza totalmente psicológica, então a descoberta de seus antecedentes históricos nos proporcionaria una valiosa pista sobre a sua natureza.”

Mãos Negras

Depois de escrever sobre os casos Gerry Irwin e Bette e Barney Hill, conta uma história obscura de 1950 na França, sobre um agressivo assédio a uma jovem, enquanto numa trilha indo para casa. Traduzo pequeno texto do depoimento da jovem, para marcar a estranheza desse caso.

“Estas mãos não aparecem atrás de mim, mas vieram de cima, como se estivessem suspensas sobre a minha cabeça esperando o momento de me agarrar. As mãos negras não repousaram imediatamente na minha cabeça. Provavelmente dois ou três passos antes de me tocar. Essas mãos não tinham braços visíveis! Ambas foram aplicadas contra o meu rosto violentamente e me apertaram a cabeça, como as garras de uma ave de rapina faria com sua vítima infeliz e impotente. Jogaram minha cabeça para trás, até colocá-la em contato com um peito muito duro ... tão duro, era como ferro; senti o frio pelo meu cabelo e no meu pescoço, mas nenhum contato com roupas. As mãos me oprimiam como um formidável torno de carpinteiro, mas não de forma abrupta, mas gradualmente. Estavam tão frias, que me fez pensar que não eram de carne. Tinha os olhos cobertos por grande dedos, e não podia ver nada; Também elas estavam cobrindo o nariz, impedindo minha respiração e a boca, para que não gritasse.”

Gallípoli, I Grande Guerra Mundial

Nos traz uma história fantástica de nuvens estranhas e da abdução de centenas de soldados e oficiais durante uma batalha na península de Galípoli, Turquia, contada através de uma carta assinada por três veteranos militares cinquenta anos após o ocorrido, de eventos que consideram ter testemunhado: (ler matéria especifica aqui no blog:

“Gallípoli, 28 de agosto de 1915.

(...) um dia muito claro, (...), sem nuvens a vista, excetuando unicamente seis ou sete em forma de pães que apareciam no alto, sobre a Cota 60. Se advertiu que, apesar de que soprava um vento de seis ou sete quilômetros por hora, aquelas nuvens não se moviam nem mudavam de forma. Desde nossa posição, situada em uma altura de uns 150 metros e superando mais ou menos em 90 a elevação da Cota 60, podíamos distinguir outra nuvem de idêntica forma, porém muito baixa, que parecia quase arrastrar-se pelo solo. Poderia medir 250 metros de longitude por uns 60 de largura e altura. Perto da zona de onde se combatia, a nuvem apareceu estranhamente densa, quase sólida a vista, refletindo intensamente a luz do sol. (...) Todo quanto antecede foi observado por 22 homens (...) Como se comprovou depois, a estranha nuvem se achava deitada ao longo de um leito seco (...), e víamos perfeitamente os lados dos extremos da nuvem, que, como digo, descansava no solo. (...) Algumas centenas de homens do 5° Regimento de Norfolk subiam o leito seco do rio, (...). Foram penetrando nele sem vacilar..., porém nenhum deles voltou a sair pelo outro lado nem pode jamais chegar a tomar posições (...). Quando havia penetrado o último dos homens, a nuvem se levantou como uma névoa qualquer, porém conservando sua forma. Alcançou a altura das demais; (...) Em questão de uns três quartos de hora, haviam desaparecido totalmente de nossa vista. O Regimento em questão se considera «desaparecido» ou «exterminado», e quando a Turquia se rendeu, em 1918, a primeira coisa que a Inglaterra exigiu a Turquia foi a devolução deste Regimento. A Turquia contestou que não havia capturado nem havia estabelecido contato com ele, (...) Nós, abaixo assinados, embora muito tempo depois do sucedido, ou seja, no 50° aniversário do desembarque dos ANZACS, declaramos que o incidente antes descrito é certo da primeira à última palavra.”

Assinaram três soldados que pertenciam a um corpo encarregado de abrir trincheiras e caminhos nas marchas.

Levados pelo vento

Vallee nos diz que do passado nos chegam muitas histórias de abduções pelo povo das fadas que as vezes transportavam pessoas por meios aéreos a lugares distantes. Nos conta vários casos coletados pelo reverendo Kirk (século XVII), e destaca:

“A natureza física de Magonia, tal como aparece para nós nessas histórias, é notável. Às vezes há um país remoto, uma ilha invisível, um lugar distante onde só se pode chegar depois de uma longa viagem. (...) . Essa crença é paralela a que está atualmente na origem extraterrestre do fenômeno UFO, e que é tão popular hoje. Uma segunda teoria - igualmente difundida é que o País dos Elfos é uma espécie de universo paralelo coexistindo com o nosso. Ele só se torna visível e tangível as pessoas escolhidas, e "portas" que conduzem a ele são pontos tangenciais conhecidos apenas pelos elfos. Isso é um tanto análogo a teoria por vezes encontrada na literatura sobre UFO, sobre o que muitas vezes alguns autores chamaram de "quarta dimensão" ... embora esta expressão, é claro, tem muito menos sentido físico que a teoria de um País das Fadas paralelo. (Mas soa mais científico!)”

Repassa várias histórias antigas onde as fadas são responsáveis por raptos de homens, mulheres, especialmente as grávidas e crianças, as vezes substituindo a criança humana raptada por um dos seus.

“Quais são os propósitos das fadas com esses raptos? A ideia aventada por folcloristas também é muito semelhante a uma teoria atual sobre UFOs: esses contatos têm uma finalidade genética. Segundo tantas vezes citado por Hartland:


(...) o motivo atribuído das fadas nos contos do Norte é preservar e melhorar a sua raça, primeiro tomando crianças humanas para criá-las entre os elfos e se juntar a eles, e em segundo lugar, procurando o leite e os cuidados de mães humanas para sua própria prole.”.

Relata também as histórias antigas onde a visita de seres humanos ao País das Fadas ou dos Elfos alterava a passagem normal do tempo. Um dia por lá significava muito mais tempo transcorrido no nosso mundo, e voltando desses lugares descobriam que muito tempo havia se passado. Lembra que a visão preponderante entre os estudiosos do Campo UFO é a origem extraterrestre dos fenômenos, no entanto, essa visão peca por não explicar o fenômeno no seu contexto histórico. Sugere que reconhecer o paralelo existente entre os OVNIs e os principais temas do folclore, como as fadas, pode nos levar a uma nova saída. Descreve dois casos muito estranhos, com detalhes incríveis:

Eugênio Douglas – Monte Maíz, Argentina

Antônio Villas Boas - Minas Gerais:

Na noite de 14/10/1957, Antônio Villas Boas arava com um trator o campo, junto com seu irmão. Uma luz surgiu nos céus, mudando de posições. Quando se aproximou, fugiram. Na noite seguinte, perto da 01h, Antônio estava só no campo. Uma luz se aproximou em grande velocidade. Assustado, tentou voltar para casa, mas o trator não funcionava. O objeto aterrissou a 20 metros. Quatro homens saídos do objeto o agarraram e o arrastaram para dentro da máquina. Esses seres se comunicavam entre eles mediante baixos grunhidos. Apesar de sua resistência, o deixaram nu, e o levaram para outra sala, passando por uma porta com estranhas letras. Algum tempo depois entrou uma mulher nua, cabelos ruivos, repartidos, olhos azuis largos e redondos, nariz reto, maças do rosto salientes. Tinha um rosto muito largo. Terminava em um queixo pontiagudo. Lábios finos, orelhas pequenas. Era muito mais baixa que ele. A pequena mulher deixou claro de maneira inequívoca qual era o objeto de sua visita (cópula). Pouco depois, entrou um homem, que acenou para a mulher, que, apontando para sua barriga, sorriu. Já vestido, o levaram até onde estava a tripulação. Lá observou uma caixa com tampa de vidro que parecia um “relógio despertador”. Esse relógio tinha um ponteiro e vários sinais que corresponderiam ao 3, 6, 9 e 12 de um relógio comum. Porém como o tempo passava e o ponteiro não se movia, Antônio supôs que não se tratava de um relógio. Vamos ler um pouco mais de Jacques Vallee:

”O simbolismo dessa observação de Villas Boas é claro. Ela nos lembra dos contos de fadas citados acima, o país onde o tempo para, e o grande poeta que tinha em seu quarto um grande relógio branco sem ponteiros, que trazia a inscrição: "É mais tarde do que você pensa." O que é surpreendente é a qualidade poética que tem esses detalhes em muitas histórias sobre OVNIs, apesar do caráter irracional e absurdo da história e que as fazem parecidas com um sonho.” 

“Quando o folclore degenera, tornando-se um gênero menor, como aconteceu com a fé em fadas, que degenerou nos atuais contos de fadas, perdeu, naturalmente, muito do seu conteúdo: precisamente o impróprio para menores que não pode ser mantido em livros para crianças. O resultado desta censura direta dos detalhes picantes dessas maravilhosas histórias, as converte realmente em simples motivos de assombro. O Caso Villas Boas não é apropriado como leitura para uma escola maternal, mas a eliminação da pequena mulher transforma esta história em um conto desprovido de seu profundo valor simbólico ou psicológico. É precisamente o contexto sexual que dá a essas histórias a sua influência literária. É o que dá impacto à fé em fadas. Sem este contexto sexual, sem histórias de parteiras humanas, crianças trocadas por outras, os casamentos mistos com elfos, questões que nunca são mencionados nos contos de fadas modernos, é duvidoso que a tradição das fadas tivesse sobrevivido através dos séculos. E isso não só é verdade quanto ao conto das fadas: casos mais notáveis de contato sexual com seres não humanos não se encontram em livros picantes de pratos voadores, nem em lendas sobre as fadas, mas estão guardadas nos arquivos da Igreja.”

Entra na demonologia cristã do século XVII, fala sobre íncubos e súcubos e dos escritos sobre o assunto do Frei Ludovico María Sinistrari de Ameno. Sobre súcubos  e íncubos, Sinistrari dizia que não obedeciam aos exorcistas, ou tinham temor a objetos sagrados. Seriam, portanto, demônios? Não deveriam ser tratados como fadas e ou elementais? Ao que tanto se parecem? Se tem corpos, como sustentar a teoria tradicional de que súcubos e íncubos pegam corpos emprestados? Poderia esta teoria explicar que nasçam filhos dessas uniões? E quais seriam suas características? 

“Se admitimos que os informes sobre OVNIs que temos reproduzido desde o começo deste capítulo indicam que o fenômeno tem um conteúdo genético, então as perguntas que acabamos de formular são fundamentais (…)”

CAPÍTULO V: CRIATURAS IMORTAIS

O capítulo começa com testemunhos de supostos contatados por seres extraterrestres, que receberam mensagens sobre o futuro, que afirmam a presença deles entre nós, bem como, sua constante intervenção no curso da história humana, e traça um paralelo com a crença nas antigas fadas: a de que influenciam nos acontecimentos humanos.

Em 21/08/1879, na aldeia irlandesa de Knock, após o anoitecer e durante uma forte chuva, quase duas dezenas de moradores do lugar viram estranhas figuras em algo que parecia um altar, junto a uma das paredes externa da igreja. A visão consistia de três pessoas de pé, rodeadas por um extraordinário resplendor. No centro Nossa Senhora, a sua direita, São José, e a terceira identificada como São João Evangelista. Uma comissão diocesana interrogou testemunhas (três homens, dois meninos, três adolescentes e seis mulheres), de idades entre os seis e os setenta e cinco anos. Um homem viu um enorme globo de luz dourada iluminando a frente da igreja de Knock. As testemunhas falaram de uma luz dourada e cintilante, tão brilhante como o Sol. E dentro dessa zona iluminada todos puderam ver a aparição. As três figuras vestiam um branco deslumbrante. Por trás delas um altar com uma grande cruz e um cordeiro. Nossa Senhora levava uma coroa brilhante sobre a cabeça e os braços estendidos com as palmas das mãos para cima. Uma mulher correu para abraçar os pés da Virgem, porém seus braços encontraram o vazio. Apesar da copiosa chuva, no interior da aparição o solo permanecia seco. O local passou a ser objeto de peregrinação e curas.


Segundo Vallee:

“Não é fora de lugar assinalar aqui que este caso apresenta muitos pontos de contato com observações de OVNIS: o estranho globo de luz de intensidade variável, os seres luminosos dentro do campo iluminado ou perto dele, a ausência de chuva no lugar da aparição, e, finalmente, as supostas curas milagrosas. Todas estas circunstancias estão presentes na atual mitologia ufológica.” 

E outro surpreendente caso:

Em 9/12/1531 no México, “(...) representa o culminar de todas as superstições até agora comentadas. Seu impacto sociológico e psicológico foi tremendo, e vestígios físicos deixados ainda podem ser vistos hoje, e são objeto de grande devoção (...)”.

Naquela manhã, um índio de 51 anos, Juan Diego, ia para uma igreja próxima da Cidade do México. Se deteve ao ouvir um concerto de aves, com vozes doces e melodiosas. Ato seguido, uma voz feminina chamou Juan Diego por seu nome. A voz vinha do alto de uma colina, oculta por uma névoa gelada e brilhante. E quando subiu a viu. Estava envolta em uma aureola de raios solares. Era uma bela jovem mexicana de 14 anos.

“(…) Até agora, temos um começo perfeito para um conto de fadas atual. Mas no diálogo que se seguiu, a aparição disse a Juan Diego que era Maria, e ela queria ter um templo naquele lugar. (…)”

Ordenou a ele que fosse ao bispo é contasse o que viu e ouviu. Apesar da dificuldade o fez, sem que este acreditasse. Juan aconselhou a aparição que enviasse outro mensageiro, mas ela disse que ele era o escolhido, mandou que voltasse ao bispo e insistisse. O bispo, impressionado com o relato, pediu a Juan que conseguisse um sinal tangível com a aparição, mandando dois servidores o seguirem secretamente. O viram subir na colina, mas não encontram rastro dele depois. A aparição disse a Juan para voltar no dia seguinte para entregar-lhe o sinal pedido. Juan não foi ao encontro no dia seguinte, pois estava a cuidar de seu tio que ficara muito doente. Quando estava a buscar ajuda, a aparição o cercou, disse que ajudaria seu tio e que fosse a colina colher flores e as trouxesse para ela. Juan trouxe as flores e a aparição as prendeu ao manto dele e o mandou ao bispo. Juan na presença do bispo, desatou o manto que ao cair com as flores dentro, imprimiu instantaneamente uma linda imagem da Virgem, até hoje exposta na basílica de Nossa Senhora de Guadalupe.

Nos seis anos seguintes desse incidente, mais de oito milhões de índios foram batizados.

Ao tio de Juan apareceu uma figura luminosa de uma jovem que disse que o curaria. O informou sobre a missão de seu sobrinho e falou: Chame a mim e minha imagem de Santa Maria de Guadalupe.

Vallee acrescenta:

“Porém, foi isso que verdadeiramente disse a aparição? Ampliando as investigações de Helen Behrens, Ethel Cook Eliot aponta que o fonema índio pronunciado pela aparição foi Teltcoatlaxopeuh, que poderíamos transcrever foneticamente como Deguatlahupee. Para alguns ouvidos espanhóis, isso deve ter soado pouco mais ou menos como «De Guadalupe». Porém, a aparição falou a Juan Diego e a seu tio em seu próprio dialeto índio (...) e, portanto, não tinha motivo para empregar o nome que se lhe atribui em espanhol. Teltcoatlaxopeuh significa «Serpente de pedra pisada». Helen Behrens supõe que com esta expressão a aparição anunciava que vinha a substituir a Quetzalcoatl, a quem os índios haviam idolatrado sob a forma da serpente emplumada.”

Na sequência desses dois casos interessantes ligados a aparições de cunho religioso, Vallee conta várias histórias sobre encontros com naves pousadas e detalha o caso de uma nave aérea vista em várias regiões dos EUA em 1897 e os encontros entre seus tripulantes e populares.

Vallee expõe nesse final de livro uma análise perspicaz e ideias revolucionárias, reproduzidas abaixo:

"Fato 1: Desde meados de 1946, existe entre o público de todos os países uma proliferação extremamente ativa de pitorescos rumores. Estes se centram em um número considerável de observações de máquinas desconhecidas próximas ao solo nas zonas rurais, nos vestígios físicos deixados por essas máquinas, e em seus diversos efeitos em seres humanos e animais.

Fato 2: Extraindo desses rumores os arquétipos subjacentes, se vê que o mito dos OVNIs coincide em notável grau com a fé nas fadas das regiões célticas, as observações feitas por eruditos antigos, e a crença, amplamente difundida entre todos os povos, acerca de seres cujas características físicas e psicológicas os colocam na mesma categoria dos atuais ufonautas.

Fato 3: Os seres que as testemunhas humanas afirmam haver visto, ouvido ou tocado se dividem em vários tipos biológicos. Entre eles há seres de tamanho gigantesco, homens completamente normais, seres alados e diversos tipos de monstros. Não obstante, a maioria dos chamados pilotos são anões e se dividem em dois grupos principais: (1) seres negros e peludos, idênticos aos gnomos das lendas medievais, de olhos brilhantes e vozes cavernosas em cascata; e (2) seres, que respondem a descrição dos silfos da Idade Média ou dos elfos da fé nas fadas, de tez humana, cabeça volumosa e voz argentina. Todos estes seres têm sido descritos com aparatos respiratórios ou sem eles. As vezes se tem visto junto a seres pertencentes a distintas categorias.

Fato 4: O comportamento desses seres é invariavelmente tão absurdo como ridículo é o aspecto de sua nave. Em numerosos casos de comunicação verbal com eles, suas declarações resultam falsas. Isto é certo para todos os casos que se conhecem, desde o encontro com o Bom Povo nas Ilhas Britânicas até conversações com os engenheiros da nave aérea, durante a onda norte-americana de 1897, sem esquecer das conversações com os supostos marcianos na Europa, América do Norte e Sul e outros lugares do globo. Esta absurda conduta tem afastado os cientistas das zonas onde essa atividade teria lugar. Também tem servido para dar ao mito OVNI sua aureola religiosa e mística.

Fato 5: O mecanismo das aparições, desde os tempos legendários e históricos até os modernos, é sempre o mesmo e segue o modelo dos milagres religiosos. Vários casos que levam o reconhecimento da Igreja católica (Fátima, Guadalupe, etc.), não são mais, em realidade – se aplicarmos as definições ao pé da letra – que fenômenos OVNI associados aos mesmos, entregando uma mensagem que se refere a crenças religiosas e não há fertilizantes ou engenharia, como em outros casos."

E propõe:

"Proposição 1: A conduta de visitantes não humanos ao nosso planeta, ou a conduta de uma raça superior que coexista conosco nesse planeta, não teria que parecer lógica necessariamente aos olhos do observador humano. Os homens de ciência que tratam depreciativamente os informes sobre OVNIS porque “é evidente que visitantes inteligentes não se comportariam assim”, simplesmente jamais pensaram a sério o problema da inteligência não humana.

Proposição 2: Se reconhecermos que a estrutura e a natureza do tempo segue sendo tão enigmática para os físicos modernos com era para o reverendo Kirk, disso se deduz que qualquer teoria do Universo que não tenha em conta nossa ignorância a esse respeito, provavelmente não passará de um exercício acadêmico. Em particular, semelhante teoria nunca poderia esgrimir-se seriamente em uma discussão acerca das limitações impostas aos possíveis visitantes de nosso planeta.

Proposição 3: Todo o enigma que estamos discutindo contem do primeiro ao último os elementos de um mito que poderia ser utilizado para fins políticos ou sociológicos, o que está corroborado pelo curioso vinculo dos próprios informes e os progressos da tecnologia humana, desde naves aéreas a pratos voadores, passando por dirigíveis e foguetes fantasmas..., vínculo ao qual nunca se deu uma interpretação satisfatória dentro de um contexto sociológico. Eu não posso oferecer a chave do mistério. Unicamente posso repetir: a busca talvez seja inútil. A solução talvez permaneça para sempre fora de alcance, a aparente lógica de nossas deduções mais elementares podem evaporar-se. Talvez o que busquemos não seja mais que um sonho que, pese a convertesse em parte integrante de nossas vidas, nunca existiu na realidade. Não podemos estar seguros de estudarmos algo real, porque não sabemos o que é a realidade; unicamente podemos estar seguros de que nosso estudo ajudará a entender muitas mais coisas sobre nós mesmos."

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