Em 07 de Janeiro de 1948 às 15h18min se choca no solo um caça americano Mustang P-51D matando o capitão Thomas Mantell Francis Jr da Guarda Aérea Nacional do EUA, no estado do Kentucky, após perseguir um OVNI. Caso icônico da Ufologia mundial, com forte impacto na imprensa americana e quando o assunto na sociedade estava em alta.
O CASO MANTELL
O caso Mantell está bem documentado e nos últimos anos novos documentos oficiais da Força Aérea dos EUA vieram a público jogando novas luzes sobre os eventos ocorridos em 07 de Janeiro de 1948.
Logo após o acidente foi produzida extensa documentação sob a supervisão de um investigador civil enviado pelo quartel-general em Wright Patterson e membro do recém inaugurado "Project Signal". Este projeto foi a primeira iniciativa de investigação oficial da Força Aérea americana para investigar objetos voadores não identificados, sediado na Base Aérea em Wright-Patterson, estado de Ohio e funcionou por sete meses (1), incluindo o período do acidente de Mantell. O investigador deixou ordens claras para que nenhum outro relatório fosse seja produzido sem autorização expressa (2).
A Força Aérea emitiu em
21/01/48
um “Report
of Major Accident” (3),
relatório de acidente grave e uma revisão em 1952
pelo ATIC da Força Aérea (Air Technical Inteligence Center) foi
feita pelo chefe do projeto para investigação de OVNIs da Força
Aérea, “Project
Blue Book”,
Edward Ruppelt. Começarei o relato do caso pelos registros e análises feitas por Ruppelt publicadas em seu livro, “The
Report on Unidentied Flying Objects”,
O Relatório dos Objetos Voadores Não Identificados, publicado em
1955.
Mantell era o líder de um voo de quatro aeronaves P-51 que partiram da Base Aérea de Marietta, Atlanta, estado da Georgia e
que estavam em aproximação da Base Aérea Godman em Hardin County, estado de Kentucky e que foi acionado pela torre de controle da Base para
auxiliar na identificação de um objeto nos céus da região.
P-51D Mustang da Guarda Nacional de Michigan. Crédito Força Aérea EUA
Duas
horas antes, às 13h15min, a torre de controle de Godman recebeu
telefonema da Polícia Rodoviária do estado sobre a observação de
um objeto circular de 250 m a 300 m de diâmetro por pessoas nas
cidades de Maysville e vinte minutos depois outro telefonema
informando que também nas cidades de Owensboro e Irvington o mesmo
acontecia. Como a Base Aérea de Godman fica entre Maysville, a leste
e Owensboro a oeste, cidades separadas por mais 300 km de distância,
os dois controladores da torre especularam que o objeto poderia
voltar e ser avistado, o que de fato aconteceu. Sem poderem
identificar o objeto como avião ou balão meteorológico, chamaram o
oficial de operações. A essa altura, a informação sobre o objeto
correu a Base e vários oficiais acudiram a torre, entre eles o
oficial de inteligência e o Comandante da Base, coronel Hix. Estavam
perplexos e pensando como agir. Então, avistaram o voo liderado pelo
capitão Mantell; das quatro aeronaves, por motivos que deverão ser
mais bem analisados a frente, somente a de Mantell empreendeu a
perseguição. Ao avistar o objeto, Mantell profere a frase:
“'it
appears to be metallic object....of tremendous size....directly ahead
and slightly above....I am trying to close for a better look.”,
traduzindo livremente, “parece
ser um objeto metálico .... de tamanho enorme .... diretamente em
frente e um pouco acima .... Eu estou tentando fechar para ver
melhor.”,
conforme documento conjunto da Inteligência da Força Aérea e da
Marinha classificado como altamente secreto “Analysis
of Flying Object Incidents in
The U.S.”(4) de 10/12/48 em que o caso Mantell faz parte de uma lista de ocorrências OVNI e descoberto em 1985 graças aos esforços de Robert G.
Todd(5)No livro de Ruppelt, ele não consegue identificar pelos relatos a
verdadeira frase e usa uma variação do documento acima citado.
As investigações descobriram antigos documentos oficiais e analisaram outros já conhecidos, empreendendo análises cientificas aos dados existentes e chegando a conclusões importantes que resgatam o incidente da credulidade em planetas brilhantes e balões skyhook para explicar a perseguição a um OVNI que levou a morte o capitão Mantell.
No
relatório oficial da Força Aérea, a conclusão foi de que Mantell perseguira o
planeta Vênus ou um balão e a queda no solo devido à perda de
consciência do piloto causada por baixo teor de oxigênio (hipóxia)
na altitude acima de 20.000 pés (cerca de 6.600 m).
Outro documento de 10/11/48 oriundo do departamento de inteligência aponta para o verdadeiro pensamento da Força Aérea e como o acidente era considerado: inexplicável(6).
Outro documento de 10/11/48 oriundo do departamento de inteligência aponta para o verdadeiro pensamento da Força Aérea e como o acidente era considerado: inexplicável(6).
Quase
cindo anos depois, em abril de 1952, a revista LIFE publicou uma
matéria de H. B. Darrach Jr e Robert Ginna com o título “Have
we visitors from space?”,
algo como: temos visitantes do espaço? Inclusive com direito a
chamada de capa e, diga-se, muito bem acompanhada pela
foto de Marilyn Monroe. Uma sugestão aos leitores e leitoras: visite
o sítio da extinta LIFE mantida pela revista TIME, lá está
hospedada uma apresentação com a reprodução de várias páginas
de diversas edições entre 1952 e 1962 com matérias sobre Marilyn,
use o endereço
http://life.time.com/icons/marilyn-the-life-covers-1952-1962.
Na matéria que despertou novamente o interesse do caso Mantell para a Força
Aérea, os repórteres fizeram uma análise de dez casos entre 1947 e
1952 e confrontaram suas investigações na sede da própria ATIC,
onde obtiveram auxílio de um “expert”
em UFO, que se acredita tenha sido o próprio Ruppelt, além de
fontes no Pentágono. O caso Mantell não é um dos dez casos, e sim
citado introdutoriamente como um dos fatos de amplo conhecimento e
declara que a Força Aérea o considera ainda não resolvido. Após a
matéria, o Pentágono solicita a ATIC uma reanalise do caso a
Ruppelt. Ao final ele chega a conclusão que Vênus estaria
descartada pela pouca luminosidade que naquela região, dia e hora o
planeta teria e não seria compatível com a observação pelo
pessoal da torre de controle de Godman. Então, faz a suposição do
lançamento de um balão skyhook, meteorológico para altas
altitudes, utilizado pela Marinha americana para pesquisa
atmosférica, com cerca de 100 m de diâmetro, lançado na Base Aérea
de Clinton County, sul de Ohio. Suposição sem confirmação pela
central que supervisionava todos os lançamentos dos skyhook.
Analisou
ventos, fez algumas conjecturas e deu o veredito de que Mantell e
demais observadores haviam visto um balão meteorológico skyhook. E
assim ficou enterrado por mais de 60 anos uma explicação científica
do incidente. Além disso, Mantell foi acusado de ter agido de modo
emocional, saindo em perseguição a toda potência do motor,
desrespeitando as normas vigentes quanto a voo de altitude sem
mascara de oxigênio, colocando a sua vida em risco e não comunicar
aos outros P-51 as suas intenções, que eram a perseguição do OVNI
em alta altitude.
Felizmente
para a memória do capitão Thomas Mantell
Francis Jr, uma nova investigação foi levada adiante a partir de
2006 e em 2010 novas revelações contestaram a versão oficial, a de
Ruppelt e a dos pilotos em voo com Mantell naquela tarde. Desta investigação extraí a maioria dos documentos citados nas Notas ao fim do artigo.
Primeiro:
Mantell estava equipado com mascara e oxigênio; segundo: não houve
nenhum lançamento de balão skyhook na área e terceiro: seus
colegas de voo o abandonaram no transcurso da missão de forma
criminosa.
Essas
informações constam de um extenso trabalho publicado e disponível
no sítio da antiga NICAP(7),
chamado “The
Mantell Incident – An Anatomy of an Investigation”,
de 2010, por Francis Ridge, coordenador e arquivista do sitio da
NICAP, Jean Waskiewicz e Dan Wilson, incluindo uma análise
independente de Brad Sparks, pesquisador ufológico reconhecido,
especialista no envolvimento da CIA no assunto UFO e nos documentos
do antigo Projeto Livro Azul, iniciativa da Força Aérea americana
para investigação de UFOs entre 1952 e 1970.
As investigações descobriram antigos documentos oficiais e analisaram outros já conhecidos, empreendendo análises cientificas aos dados existentes e chegando a conclusões importantes que resgatam o incidente da credulidade em planetas brilhantes e balões skyhook para explicar a perseguição a um OVNI que levou a morte o capitão Mantell.
Revelações:
Oxigênio
O
relatório do acidente em sua página 2 afirma que o sistema de
oxigênio estava em funcionamento e apenas não havia sido verificado
antes do voo porque a missão dos P-51 seria de baixa altitude.
Documento cadastrado no sitio do “Project
Blue Book Arquive”,
USAF-SIGN1-310 afirma "Oxygen
system was not serviced. System was in working order."
O
fato de não ter sido verificado ou completado o nível de oxigênio
nos sistemas antes do voo, pode ter levado a Mantell estimar
erroneamente a disponibilidade dele quando subiu acima de 14.000 pés,
altitude em que pelo regulamento o piloto deveria usar a mascara de
oxigênio, mas isso não significa que Mantell desobedeceu ao
regulamento e intempestivamente saiu à caça de um UFO de modo
desembestado e irresponsavelmente como as declarações públicas da
Força Aérea afirmaram. Segundo Brad Sparks, o mesmo relatório em
sua página 4 contradiz o afirmado anteriormente, dizendo que não
havia oxigênio no sistema de Mantell, o que indica uma mudança na
história que os militares decidiram contar ao público, mas a
tentativa de acobertamento vazou pelas suas rachaduras.
Revelações:
Skyhook
Ruppelt
defendeu a tese do balão skyhook em 1952 e acabou sendo a tese mais
aceita nos anos seguintes. No entanto, o engenheiro Charles Moore que
trabalhava para a fabricante dos skyhook, disse que em seus registros
o primeiro balão a ser lançado no campo de Clinton County foi em
09/07/51. Além disso, esses balões meteorológicos não eram
classificados como segredo como se dá a entender por Ruppelt, sendo
objeto de reportagens no New York Times entre 1946 e 1947 e na
revista Popular Science de maio de 1948, sendo a matéria a chamada de capa da edição (endereço eletrônico da publicação: http://books.google.com.br/books/about/Popular_Science.html?id=aCcDAAAAMBAJ&redir_esc=y). A
matéria é extensa e ilustrada com muitas imagens e já
fazia a pergunta: são balões secretos os discos voadores?
Houve
um balão skyhook de 70 pés (+-23 metros) lançado um dia antes da
queda de Mantell em Minnesota, com trajetória bem conhecida e que
estava distante o suficiente para não poder ser observado pelo
pessoal na torre de controle de Godman nem por Mantell.
Lançamento
de um balão skyhook em 1960. Crédito U.S. Navy.
Revelações:
Pilotos do voo
Quando
foi solicitado a Mantell para se aproximar na tentativa de
identificar o objeto, dos quatro P-51, um retornou a base de
Standiford Field, pois estava com pouco combustível e Mantell segue
em perseguição acompanhado pelos outro dois P-51, pilotados pelos
tenentes Clements e Hendricks. Aqui neste ponto, há muitos dados
conflitantes entre os dados fornecidos por Ruppelt, pelos relatórios
oficiais e depoimentos dos pilotos. A investigação de Sparks aponta
que o P-51 pilotado por Hendricks estabiliza em 15.000 pés, enquanto
Mantell e Clements prosseguem na subida. Hendricks estava sem
oxigênio e a partir de 14.000 pés o regulamento exigia seu uso,
Hendricks sentindo-se frágil, retorna a Base. É importante
esclarecer que não havia radar em Godman e as altitudes das
aeronaves tinham que ser informadas pelos pilotos. Sendo assim,
Clements estava com oxigênio e informa a certo momento estar a
22.000 pés.
Em
Ruppelt, Clements alega que Mantell subiu muito mais rápido e que
eles perderam a posição do líder, retornando a Base após
procura-lo sem sucesso. Em depoimentos posteriores, segundo Sparks,
Clements parte para uma versão mais robusta de que Mantell abandona
seus pilotos numa busca desenfreada pelo objeto, sem contato por
rádio, sugerindo que Mantell deixara as emoções o dominarem,
versão acalentada pela Força Aérea. Sparks desmonta os argumentos,
demonstra as incoerências e acusa Clements de forjar uma história
para encobrir a verdade: ele desobedeceu a ordens, abandonou Mantell
e fugiu da perseguição. É uma história cavernosa, mas Sparks faz
um trabalho excelente.
E
o que podemos dizer então?
Mantell
não perseguiu Vênus nem um balão meteorológico skyhook, e sim um
objeto de aparência metálica e enorme conforme seu relato e que
pelas testemunhas em solo tinha entre 250 m e 300 m. Sozinho, com
oxigênio e um avião capaz de chegar a 42.000 pés de altitude
(+-14.000 m) perseguiu o UFO até cerca de 25.000 pés (+-8.300 m),
quando seu oxigênio terminou, pois não havia sido reposto antes do
voo e Mantell superestimou sua autonomia. Desmaiou e entrou em queda,
retomando a consciência, mas sendo tarde demais, entrou em parafuso
e se chocou com o solo.
Ninguém
pode afirmar que o objeto era uma nave alienígena e que derrubou
Mantell.
Podemos
afirmar que Mantell perseguiu um legítimo OVNI e que infelizmente,
faleceu numa queda originada pelo possível término de seu oxigênio
no sistema do Mustang P-51D.
Notas:
(1)"Project Sign and the Estimate of the Situation, Swords M. D. Journal of UFO Studies, New Series, Vol 7, 2000.
(1)"Project Sign and the Estimate of the Situation, Swords M. D. Journal of UFO Studies, New Series, Vol 7, 2000.
(2) Project Blue Book Arquive:MAXW-PBB3-714.
(3) Project Blue Book Arquive:
USAF-SIGN1-309.jpg, USAF-SIGN1-310.jpg, USAF-SIGN1-311.jpg e
USAF-SIGN1-312.jpg.
(4) Reprodução disponível no endereço http://nicap.org/docs/airintelrpt100-203-79.pdf.
(5) Robert Greer Todd, 1953 – 2007: especialista na recuperação de documentos do governo americano, ufologo e estudioso do Caso Roswell.
(6) Project Blue Book: USAF-SIGN7-26, USAF-SIGN7-27, USAF-SIGN7-28 ou NICAP: http://www.nicap.org/docs/mantell/mantell_notvenus.htm.
O Artigo:
Fruto de muitas horas e dias de trabalho. O material pesquisado é extenso, em língua inglesa e acessei todos os documentos originais citados no trabalho da NICAP e disponíveis no Project Blue Book, dos quais alguns estão citados aqui nas notas. O livro de Ruppelt também foi lido em grande parte. A Revista Popular Science de maio de 1948 também está disponível pela web e, diga-se, numa perspectiva histórica todo seu conteúdo é muito interessante. A parte mais agradável da pesquisa foi descobrir uma conexão não ufológica com a linda Marylin Monroe que me levou a ver imagens maravilhosas da diva. O artigo pode ser livremente utilizado desde que citada a fonte: enigmaluz.blogspot.com.
(7) National Investigations Committee On Aerial Phenomena: Comitê Nacional de Investigação de Fenômenos Aéreos – foi um grupo civil de pesquisa de objetos voadores não identificados entre 1956 e 1980. Em 1980 teve sua a última publicação de seu boletim. A organização foi dissolvida no final daquele ano. Arquivos de casos de avistamentos de UFO da NICAP foram posteriormente adquiridos pelo Center for UFO Studies (CUFOS).
O Artigo:
Fruto de muitas horas e dias de trabalho. O material pesquisado é extenso, em língua inglesa e acessei todos os documentos originais citados no trabalho da NICAP e disponíveis no Project Blue Book, dos quais alguns estão citados aqui nas notas. O livro de Ruppelt também foi lido em grande parte. A Revista Popular Science de maio de 1948 também está disponível pela web e, diga-se, numa perspectiva histórica todo seu conteúdo é muito interessante. A parte mais agradável da pesquisa foi descobrir uma conexão não ufológica com a linda Marylin Monroe que me levou a ver imagens maravilhosas da diva. O artigo pode ser livremente utilizado desde que citada a fonte: enigmaluz.blogspot.com.
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