10 setembro 2013

O CASO MANTELL

Forças Aéreas versus OVNIs 

Em 07 de Janeiro de 1948 às 15h18min se choca no solo um caça americano Mustang P-51D matando o capitão Thomas Mantell Francis Jr da Guarda Aérea Nacional do EUA, no estado do Kentucky, após perseguir um OVNI. Caso icônico da Ufologia mundial, com forte impacto na imprensa americana e quando o assunto na sociedade estava em alta.


O CASO MANTELL


O caso Mantell está bem documentado e nos últimos anos novos documentos oficiais da Força Aérea dos EUA vieram a público jogando novas luzes sobre os eventos ocorridos em 07 de Janeiro de 1948.

Logo após o acidente foi produzida extensa documentação sob a supervisão de um investigador civil enviado pelo quartel-general em Wright Patterson e membro do recém inaugurado "Project Signal". Este projeto foi a primeira iniciativa de investigação oficial da Força Aérea americana para investigar objetos voadores não identificados, sediado na Base Aérea em Wright-Patterson, estado de Ohio e funcionou por sete meses (1), incluindo o período do acidente de Mantell. O investigador deixou ordens claras para que nenhum outro relatório fosse seja produzido sem autorização expressa (2).


A Força Aérea emitiu em 21/01/48 um “Report of Major Accident (3), relatório de acidente grave e uma revisão em 1952 pelo ATIC da Força Aérea (Air Technical Inteligence Center) foi feita pelo chefe do projeto para investigação de OVNIs da Força Aérea, “Project Blue Book”, Edward Ruppelt. Começarei o relato do caso pelos registros e análises feitas por Ruppelt publicadas em seu livro, “The Report on Unidentied Flying Objects”, O Relatório dos Objetos Voadores Não Identificados, publicado em 1955.

Mantell era o líder de um voo de quatro aeronaves P-51 que partiram da Base Aérea de Marietta, Atlanta, estado da Georgia e que estavam em aproximação da Base Aérea Godman em Hardin County, estado de Kentucky e que foi acionado pela torre de controle da Base para auxiliar na identificação de um objeto nos céus da região.

    P-51D Mustang da Guarda Nacional de Michigan. Crédito Força Aérea EUA

Duas horas antes, às 13h15min, a torre de controle de Godman recebeu telefonema da Polícia Rodoviária do estado sobre a observação de um objeto circular de 250 m a 300 m de diâmetro por pessoas nas cidades de Maysville e vinte minutos depois outro telefonema informando que também nas cidades de Owensboro e Irvington o mesmo acontecia. Como a Base Aérea de Godman fica entre Maysville, a leste e Owensboro a oeste, cidades separadas por mais 300 km de distância, os dois controladores da torre especularam que o objeto poderia voltar e ser avistado, o que de fato aconteceu. Sem poderem identificar o objeto como avião ou balão meteorológico, chamaram o oficial de operações. A essa altura, a informação sobre o objeto correu a Base e vários oficiais acudiram a torre, entre eles o oficial de inteligência e o Comandante da Base, coronel Hix. Estavam perplexos e pensando como agir. Então, avistaram o voo liderado pelo capitão Mantell; das quatro aeronaves, por motivos que deverão ser mais bem analisados a frente, somente a de Mantell empreendeu a perseguição. Ao avistar o objeto, Mantell profere a frase: 


'it appears to be metallic object....of tremendous size....directly ahead and slightly above....I am trying to close for a better look.”, traduzindo livremente, “parece ser um objeto metálico .... de tamanho enorme .... diretamente em frente e um pouco acima .... Eu estou tentando fechar para ver melhor.”,


conforme documento conjunto da Inteligência da Força Aérea e da Marinha classificado como altamente secreto “Analysis of Flying Object Incidents in The U.S.(4) de 10/12/48 em que o caso Mantell faz parte de uma lista de ocorrências OVNI e descoberto em 1985 graças aos esforços de Robert G. Todd(5)No livro de Ruppelt, ele não consegue identificar pelos relatos a verdadeira frase e usa uma variação do documento acima citado.



No relatório oficial da Força Aérea, a conclusão foi de que Mantell perseguira o planeta Vênus ou um balão e a queda no solo devido à perda de consciência do piloto causada por baixo teor de oxigênio (hipóxia) na altitude acima de 20.000 pés (cerca de 6.600 m).

Outro documento de 10/11/48 oriundo do departamento de inteligência aponta para o verdadeiro pensamento da Força Aérea e como o acidente era considerado: inexplicável(6).



Quase cindo anos depois, em abril de 1952, a revista LIFE publicou uma matéria de H. B. Darrach Jr e Robert Ginna com o título “Have we visitors from space?”, algo como: temos visitantes do espaço? Inclusive com direito a chamada de capa e, diga-se, muito bem acompanhada pela foto de Marilyn Monroe. Uma sugestão aos leitores e leitoras: visite o sítio da extinta LIFE mantida pela revista TIME, lá está hospedada uma apresentação com a reprodução de várias páginas de diversas edições entre 1952 e 1962 com matérias sobre Marilyn, use o endereço http://life.time.com/icons/marilyn-the-life-covers-1952-1962.


Na matéria que despertou novamente o interesse do caso Mantell para a Força Aérea, os repórteres fizeram uma análise de dez casos entre 1947 e 1952 e confrontaram suas investigações na sede da própria ATIC, onde obtiveram auxílio de um “expert” em UFO, que se acredita tenha sido o próprio Ruppelt, além de fontes no Pentágono. O caso Mantell não é um dos dez casos, e sim citado introdutoriamente como um dos fatos de amplo conhecimento e declara que a Força Aérea o considera ainda não resolvido. Após a matéria, o Pentágono solicita a ATIC uma reanalise do caso a Ruppelt. Ao final ele chega a conclusão que Vênus estaria descartada pela pouca luminosidade que naquela região, dia e hora o planeta teria e não seria compatível com a observação pelo pessoal da torre de controle de Godman. Então, faz a suposição do lançamento de um balão skyhook, meteorológico para altas altitudes, utilizado pela Marinha americana para pesquisa atmosférica, com cerca de 100 m de diâmetro, lançado na Base Aérea de Clinton County, sul de Ohio. Suposição sem confirmação pela central que supervisionava todos os lançamentos dos skyhook.

Analisou ventos, fez algumas conjecturas e deu o veredito de que Mantell e demais observadores haviam visto um balão meteorológico skyhook. E assim ficou enterrado por mais de 60 anos uma explicação científica do incidente. Além disso, Mantell foi acusado de ter agido de modo emocional, saindo em perseguição a toda potência do motor, desrespeitando as normas vigentes quanto a voo de altitude sem mascara de oxigênio, colocando a sua vida em risco e não comunicar aos outros P-51 as suas intenções, que eram a perseguição do OVNI em alta altitude.

Felizmente para a memória do capitão Thomas Mantell Francis Jr, uma nova investigação foi levada adiante a partir de 2006 e em 2010 novas revelações contestaram a versão oficial, a de Ruppelt e a dos pilotos em voo com Mantell naquela tarde. Desta investigação extraí a maioria dos documentos citados nas Notas ao fim do artigo.

Primeiro: Mantell estava equipado com mascara e oxigênio; segundo: não houve nenhum lançamento de balão skyhook na área e terceiro: seus colegas de voo o abandonaram no transcurso da missão de forma criminosa.

Essas informações constam de um extenso trabalho publicado e disponível no sítio da antiga NICAP(7), chamado “The Mantell Incident – An Anatomy of an Investigation”, de 2010, por Francis Ridge, coordenador e arquivista do sitio da NICAP, Jean Waskiewicz e Dan Wilson, incluindo uma análise independente de Brad Sparks, pesquisador ufológico reconhecido, especialista no envolvimento da CIA no assunto UFO e nos documentos do antigo Projeto Livro Azul, iniciativa da Força Aérea americana para investigação de UFOs entre 1952 e 1970.

As investigações descobriram antigos documentos oficiais e analisaram outros já conhecidos, empreendendo análises cientificas aos dados existentes e chegando a conclusões importantes que resgatam o incidente da credulidade em planetas brilhantes e balões skyhook para explicar a perseguição a um OVNI que levou a morte o capitão Mantell.

Revelações: Oxigênio

O relatório do acidente em sua página 2 afirma que o sistema de oxigênio estava em funcionamento e apenas não havia sido verificado antes do voo porque a missão dos P-51 seria de baixa altitude. Documento cadastrado no sitio do “Project Blue Book Arquive”, USAF-SIGN1-310 afirma "Oxygen system was not serviced. System was in working order."

O fato de não ter sido verificado ou completado o nível de oxigênio nos sistemas antes do voo, pode ter levado a Mantell estimar erroneamente a disponibilidade dele quando subiu acima de 14.000 pés, altitude em que pelo regulamento o piloto deveria usar a mascara de oxigênio, mas isso não significa que Mantell desobedeceu ao regulamento e intempestivamente saiu à caça de um UFO de modo desembestado e irresponsavelmente como as declarações públicas da Força Aérea afirmaram. Segundo Brad Sparks, o mesmo relatório em sua página 4 contradiz o afirmado anteriormente, dizendo que não havia oxigênio no sistema de Mantell, o que indica uma mudança na história que os militares decidiram contar ao público, mas a tentativa de acobertamento vazou pelas suas rachaduras. 

Revelações: Skyhook

Ruppelt defendeu a tese do balão skyhook em 1952 e acabou sendo a tese mais aceita nos anos seguintes. No entanto, o engenheiro Charles Moore que trabalhava para a fabricante dos skyhook, disse que em seus registros o primeiro balão a ser lançado no campo de Clinton County foi em 09/07/51. Além disso, esses balões meteorológicos não eram classificados como segredo como se dá a entender por Ruppelt, sendo objeto de reportagens no New York Times entre 1946 e 1947 e na revista Popular Science de maio de 1948, sendo a matéria a chamada de capa da edição (endereço eletrônico da publicação: http://books.google.com.br/books/about/Popular_Science.html?id=aCcDAAAAMBAJ&redir_esc=y). A matéria é extensa e ilustrada com muitas imagens e já fazia a pergunta: são balões secretos os discos voadores?
Houve um balão skyhook de 70 pés (+-23 metros) lançado um dia antes da queda de Mantell em Minnesota, com trajetória bem conhecida e que estava distante o suficiente para não poder ser observado pelo pessoal na torre de controle de Godman nem por Mantell.



Lançamento de um balão skyhook em 1960. Crédito U.S. Navy.

                 
Revelações: Pilotos do voo

Quando foi solicitado a Mantell para se aproximar na tentativa de identificar o objeto, dos quatro P-51, um retornou a base de Standiford Field, pois estava com pouco combustível e Mantell segue em perseguição acompanhado pelos outro dois P-51, pilotados pelos tenentes Clements e Hendricks. Aqui neste ponto, há muitos dados conflitantes entre os dados fornecidos por Ruppelt, pelos relatórios oficiais e depoimentos dos pilotos. A investigação de Sparks aponta que o P-51 pilotado por Hendricks estabiliza em 15.000 pés, enquanto Mantell e Clements prosseguem na subida. Hendricks estava sem oxigênio e a partir de 14.000 pés o regulamento exigia seu uso, Hendricks sentindo-se frágil, retorna a Base. É importante esclarecer que não havia radar em Godman e as altitudes das aeronaves tinham que ser informadas pelos pilotos. Sendo assim, Clements estava com oxigênio e informa a certo momento estar a 22.000 pés.
Em Ruppelt, Clements alega que Mantell subiu muito mais rápido e que eles perderam a posição do líder, retornando a Base após procura-lo sem sucesso. Em depoimentos posteriores, segundo Sparks, Clements parte para uma versão mais robusta de que Mantell abandona seus pilotos numa busca desenfreada pelo objeto, sem contato por rádio, sugerindo que Mantell deixara as emoções o dominarem, versão acalentada pela Força Aérea. Sparks desmonta os argumentos, demonstra as incoerências e acusa Clements de forjar uma história para encobrir a verdade: ele desobedeceu a ordens, abandonou Mantell e fugiu da perseguição. É uma história cavernosa, mas Sparks faz um trabalho excelente.

E o que podemos dizer então?

Mantell não perseguiu Vênus nem um balão meteorológico skyhook, e sim um objeto de aparência metálica e enorme conforme seu relato e que pelas testemunhas em solo tinha entre 250 m e 300 m. Sozinho, com oxigênio e um avião capaz de chegar a 42.000 pés de altitude (+-14.000 m) perseguiu o UFO até cerca de 25.000 pés (+-8.300 m), quando seu oxigênio terminou, pois não havia sido reposto antes do voo e Mantell superestimou sua autonomia. Desmaiou e entrou em queda, retomando a consciência, mas sendo tarde demais, entrou em parafuso e se chocou com o solo.
Ninguém pode afirmar que o objeto era uma nave alienígena e que derrubou Mantell.
Podemos afirmar que Mantell perseguiu um legítimo OVNI e que infelizmente, faleceu numa queda originada pelo possível término de seu oxigênio no sistema do Mustang P-51D.

Notas:
(1)"Project Sign and the Estimate of the Situation, Swords M. D. Journal of UFO Studies, New Series, Vol 7, 2000.
(2) Project Blue Book Arquive:MAXW-PBB3-714.
(3) Project Blue Book Arquive: USAF-SIGN1-309.jpg, USAF-SIGN1-310.jpg, USAF-SIGN1-311.jpg e USAF-SIGN1-312.jpg.
(4) Reprodução disponível no endereço http://nicap.org/docs/airintelrpt100-203-79.pdf.
  (5) Robert Greer Todd, 1953 – 2007: especialista na recuperação de documentos do governo americano, ufologo e estudioso do Caso Roswell.
  (6) Project Blue Book: USAF-SIGN7-26, USAF-SIGN7-27, USAF-SIGN7-28 ou NICAP: http://www.nicap.org/docs/mantell/mantell_notvenus.htm.

(7) National Investigations Committee On Aerial Phenomena: Comitê Nacional de Investigação de Fenômenos Aéreos – foi um grupo civil de pesquisa de objetos voadores não identificados entre 1956 e 1980. Em 1980 teve sua a última publicação de seu boletim. A organização foi dissolvida no final daquele anoArquivos de casos de avistamentos de UFO da NICAP foram posteriormente adquiridos pelo Center for UFO Studies (CUFOS).


O Artigo:

Fruto de muitas horas e dias de trabalho. O material pesquisado é extenso, em língua inglesa e acessei todos os documentos originais citados no trabalho da NICAP e disponíveis no Project Blue Book, dos quais alguns estão citados aqui nas notas. O livro de Ruppelt também foi lido em grande parte. A Revista Popular Science de maio de 1948 também está disponível pela web e, diga-se, numa perspectiva histórica todo seu conteúdo é muito interessante. A parte mais agradável da pesquisa foi descobrir uma conexão não ufológica com a linda Marylin Monroe que me levou a ver imagens maravilhosas da diva.
O artigo pode ser livremente utilizado desde que citada a fonte: enigmaluz.blogspot.com.


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